sexta-feira, 11 de abril de 2025

Breathless: Ecos de Beleza e Nostalgia na Penumbra

Formado em 1983, o Breathless é um quarteto inglês que mergulha nos territórios nebulosos do pós-punk, com Dominic Appleton nos vocais e teclados, Gary Mundy na guitarra, Ari Neufeld no baixo e Tristram Latimer Sayer na bateria. Ao longo de quase quatro décadas de atividade ininterrupta no subterrâneo, a banda construiu uma discografia densa e emocional: oito álbuns de estúdio, uma coletânea e uma série de EPs e singles — todos lançados de forma independente pelo próprio selo do grupo, Tenor Vossa Records.

 A história do Breathless começa com uma amizade de longa data entre Dominic Appleton e Gary Mundy, que se conheciam desde os tempos de escola e chegaram a tocar juntos numa obscura banda chamada A Cruel Memory. Mais tarde, já trabalhando na Virgin Megastore de Londres, Appleton cruzou caminhos com a baixista Ari Neufeld.

Ela o convidou para tocar teclados numa banda em que estava envolvida, mas não demorou muito até os dois perceberem que a química criativa entre eles era forte demais para ficar limitada àquele projeto. Resolveram sair e começar algo próprio.

Appleton assumiu os vocais, e Mundy foi chamado para a guitarra. O nome "Breathless" foi tirado de À Bout de Souffle, clássico da Nouvelle Vague dirigido por Jean-Luc Godard uma referência certeira para um grupo que sempre transitou por paisagens sonoras cinematográficas e melancólicas. 

A estreia veio em abril de 1984, com o single Waterland / Second Heaven. As faixas foram gravadas duas semanas após o baterista Tristram Latimer Sayer entrar na banda, ainda nos estúdios da Denmark Street. Na sequência, lançaram o EP Ageless, que mesmo sendo apenas um 12", veio de sessões intensas que geraram material suficiente para um álbum inteiro.

Embora, segundo Ari, eles ainda estivessem aprendendo os meandros do estúdio e decidiram descartar tudo, exceto três faixas. Foi aí que surgiu a colaboração com o engenheiro Drostan Madden, indicado por ninguém menos que Ivo Watts-Russell da 4AD. Essa parceria voltaria a se repetir diversas vezes.

Em agosto de 1985, veio o EP Two Days from Eden, um prelúdio do que seria seu primeiro álbum completo, The Glass Bead Game, lançado em junho de 1986 e gravado no lendário Blackwing Studios com John Fryer um nome importante na cena etérea britânica. Em novembro do mesmo ano, o EP Nailing Colours to the Wheel mostrou que o grupo não tinha intenção de desacelerar. 

Durante a gravação do segundo disco, Three Times and Waving (1987), o baterista original saiu, dando lugar a Martyn Watts, que dividiu os créditos das baquetas com seu antecessor. A capa do álbum traz uma pintura de Jean Dubuffet, ampliando o vínculo entre som e imagem que sempre definiu o Breathless. Já em 1989, foi a vez de Chasing Promises, acompanhado do single I Never Know Where You Are, que acabou substituindo a planejada regravação de Moment by Moment  uma mudança motivada pelo entusiasmo com a nova composição.

Nos anos 90, o som ficou mais cru, como indicava o single duplo Always / Flowers Die, este último um cover de The Only Ones. Foi o início de uma nova fase que culminou no quarto álbum, Between Happiness and Heartache (1991), gravado com Madden e Ken Gardener. Um clipe dirigido por Damon Heath para Over and Over acompanhou o lançamento. A coletânea Heartburst, de 1994, encerrou esse ciclo da banda, reunindo faixas de 1983 a 1993.

Depois de uma pausa, o Breathless retornou em 1999 com Blue Moon, mergulhando ainda mais fundo nas águas do drone e do space rock. Vieram os singles Magic Lamp e Walk Down to the Water, e em 2003, o álbum Behind the Light. Em 2011, Latimer Sayer voltou à formação e em 2012 lançaram Green to Blue, um álbum duplo com participação especial de Heidi Berry (ex-This Mortal Coil).

Em 2016, começaram os relançamentos: Blue Moon, The Glass Bead Game (2020) e Between Happiness and Heartache (2021). Até que em 2022, após quase uma década sem material inédito, lançaram See Those Colours Fly, produzido pela própria banda e mixado por Kramer. O álbum surgiu após um momento difícil: Tristram sofreu um grave acidente antes das gravações. Sem baterista disponível, Ari assumiu a programação de bateria. A decisão se mostrou acertada , o álbum foi bem recebido pela crítica e considerado um dos mais sólidos da discografia. 

Paralelamente, Dominic Appleton também foi convidado por Ivo Watts-Russell para participar do lendário projeto This Mortal Coil, gravando vocais para os álbuns Filigree & Shadow e Blood, mesmo sem ser um artista da 4AD. Ivo não economizou nos elogios: "Dominic é, sem exagero, meu vocalista masculino vivo favorito".

Além disso, Appleton e Mundy participaram do disco de estreia de Anne Clark, The Sitting Room (1982), tocando teclado e guitarra, respectivamente. E para manter o controle total sobre sua música, o Breathless fundou o selo Tenor Vossa Records, que também abrigou artistas como Richard Warren, Laymar, Beat Milk Jugs e o projeto musical do fotógrafo Steve Gullick, o Tenebrous Liar.

Quando perguntado sobre influências, Appleton não esconde o fascínio por vozes femininas como Elizabeth Fraser e Billie Holiday, além de Kate Bush, que considera dona de uma imaginação musical sem igual. No espectro masculino, destaca John Grant e David Sylvian. Para ele, a melancolia que permeia o som do Breathless não é peso morto: é introspecção, nostalgia e beleza pura.

Álbuns de estúdio

  1. The Glass Bead Game (1986)

  2. Three Times and Waving (1987)

  3. Chasing Promises (1989)

  4. Between Happiness and Heartache (1991)

  5. Blue Moon (1999)

  6. Behind the Light (2003)

  7. Green to Blue (2012)

  8. See Those Colours Fly (2022)

    Breathless, Secondary, 2 of 4

0 comments:

Postar um comentário