Formado em 1983, o Breathless é um quarteto inglês que mergulha nos territórios nebulosos do pós-punk, com Dominic Appleton nos vocais e teclados, Gary Mundy na guitarra, Ari Neufeld no baixo e Tristram Latimer Sayer na bateria. Ao longo de quase quatro décadas de atividade ininterrupta no subterrâneo, a banda construiu uma discografia densa e emocional: oito álbuns de estúdio, uma coletânea e uma série de EPs e singles — todos lançados de forma independente pelo próprio selo do grupo, Tenor Vossa Records.
A história do Breathless começa com uma amizade de longa data entre Dominic Appleton e Gary Mundy, que se conheciam desde os tempos de escola e chegaram a tocar juntos numa obscura banda chamada A Cruel Memory. Mais tarde, já trabalhando na Virgin Megastore de Londres, Appleton cruzou caminhos com a baixista Ari Neufeld.
Ela o convidou para tocar teclados numa banda em que estava envolvida, mas não demorou muito até os dois perceberem que a química criativa entre eles era forte demais para ficar limitada àquele projeto. Resolveram sair e começar algo próprio.
Appleton assumiu os vocais, e Mundy foi chamado para a guitarra. O nome "Breathless" foi tirado de À Bout de Souffle, clássico da Nouvelle Vague dirigido por Jean-Luc Godard uma referência certeira para um grupo que sempre transitou por paisagens sonoras cinematográficas e melancólicas.
A estreia veio em abril de 1984, com o single Waterland / Second Heaven. As faixas foram gravadas duas semanas após o baterista Tristram Latimer Sayer entrar na banda, ainda nos estúdios da Denmark Street. Na sequência, lançaram o EP Ageless, que mesmo sendo apenas um 12", veio de sessões intensas que geraram material suficiente para um álbum inteiro.
Embora, segundo Ari, eles ainda estivessem aprendendo os meandros do estúdio e decidiram descartar tudo, exceto três faixas. Foi aí que surgiu a colaboração com o engenheiro Drostan Madden, indicado por ninguém menos que Ivo Watts-Russell da 4AD. Essa parceria voltaria a se repetir diversas vezes.
Em agosto de 1985, veio o EP Two Days from Eden, um prelúdio do que seria seu primeiro álbum completo, The Glass Bead Game, lançado em junho de 1986 e gravado no lendário Blackwing Studios com John Fryer um nome importante na cena etérea britânica. Em novembro do mesmo ano, o EP Nailing Colours to the Wheel mostrou que o grupo não tinha intenção de desacelerar.
Durante a gravação do segundo disco, Three Times and Waving (1987), o baterista original saiu, dando lugar a Martyn Watts, que dividiu os créditos das baquetas com seu antecessor. A capa do álbum traz uma pintura de Jean Dubuffet, ampliando o vínculo entre som e imagem que sempre definiu o Breathless. Já em 1989, foi a vez de Chasing Promises, acompanhado do single I Never Know Where You Are, que acabou substituindo a planejada regravação de Moment by Moment uma mudança motivada pelo entusiasmo com a nova composição.
Nos anos 90, o som ficou mais cru, como indicava o single duplo Always / Flowers Die, este último um cover de The Only Ones. Foi o início de uma nova fase que culminou no quarto álbum, Between Happiness and Heartache (1991), gravado com Madden e Ken Gardener. Um clipe dirigido por Damon Heath para Over and Over acompanhou o lançamento. A coletânea Heartburst, de 1994, encerrou esse ciclo da banda, reunindo faixas de 1983 a 1993.
Depois de uma pausa, o Breathless retornou em 1999 com Blue Moon, mergulhando ainda mais fundo nas águas do drone e do space rock. Vieram os singles Magic Lamp e Walk Down to the Water, e em 2003, o álbum Behind the Light. Em 2011, Latimer Sayer voltou à formação e em 2012 lançaram Green to Blue, um álbum duplo com participação especial de Heidi Berry (ex-This Mortal Coil).
Em 2016, começaram os relançamentos: Blue Moon, The Glass Bead Game (2020) e Between Happiness and Heartache (2021). Até que em 2022, após quase uma década sem material inédito, lançaram See Those Colours Fly, produzido pela própria banda e mixado por Kramer. O álbum surgiu após um momento difícil: Tristram sofreu um grave acidente antes das gravações. Sem baterista disponível, Ari assumiu a programação de bateria. A decisão se mostrou acertada , o álbum foi bem recebido pela crítica e considerado um dos mais sólidos da discografia.
Paralelamente, Dominic Appleton também foi convidado por Ivo Watts-Russell para participar do lendário projeto This Mortal Coil, gravando vocais para os álbuns Filigree & Shadow e Blood, mesmo sem ser um artista da 4AD. Ivo não economizou nos elogios: "Dominic é, sem exagero, meu vocalista masculino vivo favorito".
Além disso, Appleton e Mundy participaram do disco de estreia de Anne Clark, The Sitting Room (1982), tocando teclado e guitarra, respectivamente. E para manter o controle total sobre sua música, o Breathless fundou o selo Tenor Vossa Records, que também abrigou artistas como Richard Warren, Laymar, Beat Milk Jugs e o projeto musical do fotógrafo Steve Gullick, o Tenebrous Liar.
Quando perguntado sobre influências, Appleton não esconde o fascínio por vozes femininas como Elizabeth Fraser e Billie Holiday, além de Kate Bush, que considera dona de uma imaginação musical sem igual. No espectro masculino, destaca John Grant e David Sylvian. Para ele, a melancolia que permeia o som do Breathless não é peso morto: é introspecção, nostalgia e beleza pura.
Álbuns de estúdio
-
The Glass Bead Game (1986)
-
Three Times and Waving (1987)
-
Chasing Promises (1989)
-
Between Happiness and Heartache (1991)
-
Blue Moon (1999)
-
Behind the Light (2003)
-
Green to Blue (2012)
-
See Those Colours Fly (2022)
0 comments:
Postar um comentário