Norma Loy

 

Norma Loy é um dos nomes mais emblemáticos da coldwave francesa. Formada em 1981 em Dijon, a banda traz um nome que, ao ser reorganizado, revela sua essência simbólica: “Nom Royal”. Por trás do projeto estão Usher e Chelsea, parceiros criativos desde 1977, quando se conheceram em meio ao turbilhão do punk.

Essa parceria se estendeu para além da música, livros, exposições, performances e experimentações artísticas deram o tom do que viria a ser a estética totalizante de Norma Loy. Inicialmente, participaram de projetos como o Metal Radiant (ruído punk, na linhagem de The Stooges) e Coït Bergman (mais eletrônico e com influência direta de Suicide). A criação da Norma Loy contou inclusive com a bênção de Alan Vega, que teria sugerido o nome. 

Lançado pelo selo associado ao fanzine New Wave, o primeiro EP autointitulado (Norma Loy, 1981) surge como um marco inaugural do gênero coldwave na França,minimalismo eletrônico, atmosfera glacial e lirismo perturbador.

Sem buscar concessões ao mercado, Norma Loy foi desbravando territórios. Em 1984, criaram seu próprio selo, o CPM, que funcionava como uma usina criativa, reunindo produção musical, fotográfica, literária e performática. Tudo era concebido de forma integrada dos discos às projeções ao vivo, que misturavam música e imagens em slides. O EP Psychic Altercation (1984) apresentou o conceito de “rock psicanalítico” que marcaria o estilo da banda.

Em 1986, veio o LP Rewind/T.Vision (Divine/Madrigal), primeiro de uma trilogia que mergulhava em temas como mídia viral, paranoia, sexo catódico e realidades ilusórias,referências diretas a Burroughs, ao dadaísmo e aos situacionistas permeiam o trabalho. No mesmo espírito, lançaram o vídeo Live Atheneum, Kill Kill Tour, um cruzamento de imagens de shows com microficções visuais. 

O disco Sacrifice (1988), lançado pela Just’in/Eurobond, levou essa estética ao limite: som duro, gélido e sem concessões, espelhando o colapso espiritual dos anos 80. A faixa “Power of Spirit” invadiu os túneis do metrô parisiense, enquanto o cover de “L’homme à la moto” atingiu as rádios, resultado que os levou a assinar com a Warner para os direitos autorais.

No mesmo período, Chelsea passou a estudar Butoh, a dança japonesa da morte e da metamorfose. Isso marcou profundamente os shows da banda, agora concebidos como espetáculos multimídia com participação de grupos como Fovea e a dançarina Sumako Koseki. 

Em 1989, a compilação 82/84 resgatou faixas esquecidas, enquanto a trilogia se completava com o LP Rebirth, dedicado aos estudantes da “Primavera de Pequim” mesclando coldwave, tribalismo psicodélico e experimentações eletrônicas. O grupo ainda se apresentou no festival Printemps de Bourges e em um programa especial de TV sobre o Japão, conduzido por Frédéric Mitterrand.

A virada dos anos 90 trouxe mudanças na formação e no selo, o que culminou no álbum Attitudes (1992), lançado pela Declic/Blue Silver. O disco desconcertou parte do público gótico ao reunir influências de todas as fases da banda, do eletrônico ao tribal, do pop estranho ao ruído ritual.

Em 1993, a banda entra em hiato. Usher e Chelsea mantêm colaborações pontuais, com trilhas para filmes (The House of Love, Soul Skin) e o projeto Peep Hole, com performance na catedral de Chartres ao lado do artista Patrice Ferrasse. 

Já no fim dos anos 90, o culto à Norma Loy se reascende com compilações internacionais e o lançamento de Open Your Mind (1997)  uma coleção de remixes inéditos que vinha acompanhada de um CD-ROM (raridade para a época). Em 1999, se associam ao artista Arnovah para o projeto eletrônico DYNA, lançando versões tecnológicas de “L’homme à la moto” pela BMG.

Nos anos 2000, Chelsea assume o alter ego REED 013, dedicando-se à fotografia e arte digital com forte teor fetichista e simbólico, seus trabalhos circularam em exposições, livros (Fetish Visions, Fetish Mode) e coletivos como o Alien Nation (cena fetiche + arte underground). Usher, sob o nome A. Shield, mantém produção musical solo e forma a banda Die Puppe, com discos lançados pela Kamisori Records. No álbum La Reine des Mouches (2006), Chelsea aparece novamente, em uma homenagem a John Balance, do Coil. 

Performances como Jet Sex Klinik (2001) e X Lab (2002) marcam a colaboração dos dois em espetáculos multimídia ao lado de artistas como Kiki Picasso e a vocalista japonesa Hanayo.

A redescoberta de Sacrifice em 2006, relançado pela Infrastition, junto com o inédito White Nights/White Beats, colocou o grupo novamente no radar. Em julho daquele ano, a nova formação da banda se apresentou no Dark Omen II Festival, reunindo Chelsea (voz), Usher (sintetizadores, voz), Lol (baixo), Yann Reversat (guitarra), Guillaume (bateria) e Hélène (dança Butoh). A performance foi celebrada pela crítica e fãs, reacendendo a chama do culto. 

Em 2007, a Infrastition relança o acervo inicial em ONE/Psychic Altercation, juntando os dois primeiros EPs com faixas raras de 82 a 85. Um DVD com o show do Dark Omen e arquivos visuais da trajetória da banda também foi prometido, selando o retorno de uma das entidades mais obscuras e visionárias da cena underground europeia.

 Discografia

Rewind/T.Vision (1986) 

Live At Atheneum (1987)

Sacrifice (1988)

Rebirth (1989) 

Attitudes (1992)

Un\Real  (2009)

Baphomet (2016)

Ouroboros (2023)

 

Norma Loy is one of the most emblematic names of French coldwave. Formed in 1981 in Dijon, the band bears a name that, when rearranged, reveals its symbolic essence: “Nom Royal”. Behind the project are Usher and Chelsea, creative partners since 1977, when they met amidst the turmoil of punk.

This partnership extended beyond music — books, exhibitions, performances, and artistic experiments set the tone for what would become Norma Loy’s totalizing aesthetic. Initially, they participated in projects such as Metal Radiant (punk noise, in the lineage of The Stooges) and Coït Bergman (more electronic, with direct influence from Suicide). The creation of Norma Loy even had the blessing of Alan Vega, who is said to have suggested the name. 

Released by the label associated with the fanzine New Wave, their first self-titled EP (Norma Loy, 1981) emerged as a foundational milestone for the coldwave genre in France — electronic minimalism, glacial atmosphere, and disturbing lyricism.

Without seeking market concessions, Norma Loy carved new paths. In 1984, they created their own label, CPM, which functioned as a creative hub, bringing together music, photography, literature, and performance. Everything was conceived integrally — from records to live projections mixing music and slide imagery. The EP Psychic Altercation (1984) introduced the concept of “psychoanalytic rock” that would define the band’s style.

In 1986 came the LP Rewind/T.Vision (Divine/Madrigal), the first in a trilogy delving into themes like viral media, paranoia, cathodic sex, and illusory realities — with direct references to Burroughs, Dadaism, and the Situationists. In the same spirit, they released the video Live Atheneum, Kill Kill Tour, a blend of concert footage and visual microfictions. 

The album Sacrifice (1988), released by Just’in/Eurobond, pushed this aesthetic to its limits: hard, cold, and uncompromising sound, mirroring the spiritual collapse of the 1980s. The track “Power of Spirit” echoed through the Paris metro tunnels, while the cover of “L’homme à la moto” reached radio airplay, which led to a deal with Warner for the copyright.

Around the same time, Chelsea began studying Butoh, the Japanese dance of death and metamorphosis. This profoundly influenced the band’s performances, now conceived as multimedia spectacles with collaborations from groups like Fovea and dancer Sumako Koseki. 

In 1989, the compilation 82/84 rescued forgotten tracks, while the trilogy concluded with the LP Rebirth, dedicated to the students of the “Beijing Spring”, blending coldwave, psychedelic tribalism, and electronic experimentation. The group also performed at the Printemps de Bourges festival and on a special Japanese-themed TV program hosted by Frédéric Mitterrand.

The 1990s brought changes in lineup and label, culminating in the album Attitudes (1992), released by Declic/Blue Silver. The record unsettled part of the gothic audience by gathering influences from all phases of the band — from electronic to tribal, from strange pop to ritual noise.

In 1993, the band went on hiatus. Usher and Chelsea maintained occasional collaborations, creating film scores (The House of Love, Soul Skin) and the project Peep Hole, with a performance in Chartres Cathedral alongside artist Patrice Ferrasse. 

By the late '90s, the cult of Norma Loy reignited with international compilations and the release of Open Your Mind (1997), a collection of unreleased remixes accompanied by a CD-ROM (a rarity at the time). In 1999, they partnered with artist Arnovah for the electronic project DYNA, releasing tech-driven versions of “L’homme à la moto” through BMG.

In the 2000s, Chelsea assumed the alter ego REED 013, focusing on photography and digital art with strong fetishistic and symbolic undertones. Their works circulated in exhibitions, books (Fetish Visions, Fetish Mode), and collectives like Alien Nation (fetish scene + underground art). Usher, under the name A. Shield, continued solo music production and formed the band Die Puppe, releasing records through Kamisori Records. On the album La Reine des Mouches (2006), Chelsea reappears in a tribute to John Balance from Coil. 

Performances like Jet Sex Klinik (2001) and X Lab (2002) marked their collaboration in multimedia shows alongside artists like Kiki Picasso and Japanese vocalist Hanayo.

The rediscovery of Sacrifice in 2006, re-released by Infrastition, along with the previously unreleased White Nights/White Beats, put the group back on the map. In July of that year, the band’s new lineup performed at the Dark Omen II Festival, featuring Chelsea (vocals), Usher (synths, vocals), Lol (bass), Yann Reversat (guitar), Guillaume (drums), and Hélène (Butoh dance). The performance was acclaimed by critics and fans alike, reigniting the flame of the cult. 

In 2007, Infrastition reissued their early catalog in ONE/Psychic Altercation, combining the first two EPs with rare tracks from 1982 to 1985. A DVD featuring the Dark Omen concert and visual archives of the band's trajectory was also announced, sealing the return of one of the most obscure and visionary entities of the European underground scene.

 Discography

Rewind/T.Vision (1986) 

Live At Atheneum (1987)

Sacrifice (1988)

Rebirth (1989) 

Attitudes (1992)

Un\Real (2009)

Baphomet (2016)

Ouroboros (2023)