No Friends Of Harry

 

Formada em Joanesburgo, em 1986, a N.F.O.H. (sigla para No Friends Of Harry) detém com justiça o título de primeira banda gótica e alternativa da África do Sul. Em uma cena musical ainda incipiente e marcada pelas amarras do apartheid, o grupo surgiu como uma exceção barulhenta e noturna, abrindo caminho para toda uma geração de artistas que viam nas sombras um espaço de expressão e resistência.

Em um país cuja música alternativa enfrentava enorme dificuldade de circulação, a N.F.O.H. conquistou notoriedade graças à frequente execução de suas faixas no programa "Shadow Show", apresentado por Barney Simon na Radio 5  uma espécie de John Peel sul-africano, fundamental na divulgação do pós-punk e do rock alternativo no país. 

Com uma postura fieramente independente, a banda era impulsionada pela bateria incisiva de Annette McLennan e pelos vocais graves e cavernosos de Rob McLennan, seu companheiro e parceiro criativo. Ao lado deles, Dave de Vetta (baixo), Ian Wiggins (guitarra) e Adrian Hamilton (teclados ocasionais) completavam a formação. 

Mark Williams, seu empresário, ganhou fama por seu envolvimento performático e por vezes caótico – inclusive, segundo relatos, “ateando fogo em coisas” durante os shows ou ensaios, num espírito punk que refletia o clima instável da época. A discografia da banda inclui três álbuns essenciais para quem deseja compreender a gênese da cena alternativa africana:

"One Came Running" (1987) – Lançado de forma quase artesanal, é uma estreia crua e intensa, trazendo influências de The Birthday Party, Bauhaus e até toques de Southern Death Cult. 

"Into The Valley" (1989) – Editado pelo selo independente Principal, marca a consolidação do som da banda, com camadas mais atmosféricas e uma produção levemente mais polida.

"Fifteen Seconds" (1991) – Lançado pelo selo Clear Cut, é talvez o trabalho mais maduro do grupo, com letras que abordam desde alienação urbana até relações pessoais atravessadas por inquietude e desencanto. 

Antes de encerrar as atividades, a banda lançou ainda a coletânea "Fly By Night", um apanhado de faixas essenciais e raridades. O fim da N.F.O.H. veio em setembro de 1998, quando o baixista Dave de Vetta emigrou para a Escócia um golpe difícil de contornar em uma cena com poucos substitutos à altura.

Ainda hoje, a N.F.O.H. permanece como um símbolo poderoso do que foi fazer música sombria em um país mergulhado em censura, desigualdade e violência. Entre os ecos do pós-punk britânico e a realidade brutal da África do Sul dos anos 80, o grupo deixou um legado cult, cultuado por colecionadores e resgatado por pesquisadores sonoros que se debruçam sobre as cenas alternativas do Hemisfério Sul. 

Singles & EPs

The Present Has Passed   1988

Fade Away / The Price You Pay  2018   

Coletâneas

Fly By Night (1986-1998)

The Present Has Passed: The Best Of No Friends Of Harry  2003

 

 No Friends Of Harry

Formed in Johannesburg in 1986, N.F.O.H. (short for No Friends Of Harry) justly holds the title of South Africa's first gothic and alternative band. In a nascent music scene constrained by the shackles of apartheid, the group emerged as a noisy and nocturnal exception, paving the way for a whole generation of artists who saw the shadows as a space for expression and resistance.

In a country where alternative music faced enormous circulation difficulties, N.F.O.H. gained notoriety thanks to the frequent airplay of their tracks on the "Shadow Show" program, hosted by Barney Simon on Radio 5 – a kind of South African John Peel, fundamental in promoting post-punk and alternative rock in the country.

With a fiercely independent stance, the band was driven by the incisive drumming of Annette McLennan and the deep, cavernous vocals of Rob McLennan, her partner and creative collaborator. Alongside them, Dave de Vetta (bass), Ian Wiggins (guitar), and Adrian Hamilton (occasional keyboards) completed the lineup.

Mark Williams, their manager, gained fame for his performative and sometimes chaotic involvement – including, according to reports, "setting things on fire" during shows or rehearsals, in a punk spirit that reflected the unstable climate of the time. The band's discography includes three essential albums for anyone wishing to understand the genesis of the African alternative scene:

---

Albums

• "One Came Running" (1987) – Released in an almost artisanal way, it's a raw and intense debut, bringing influences from The Birthday Party, Bauhaus, and even touches of Southern Death Cult.
• "Into The Valley" (1989) – Released by the independent label Principal, this album marked the consolidation of the band's sound, with more atmospheric layers and a slightly more polished production.
• "Fifteen Seconds" (1991) – Released by the Clear Cut label, this is perhaps the group's most mature work, with lyrics that address everything from urban alienation to personal relationships crossed by unease and disillusionment.

---

Before disbanding, the band also released the compilation "Fly By Night", a collection of essential tracks and rarities. The end of N.F.O.H. came in September 1998, when bassist Dave de Vetta emigrated to Scotland – a difficult blow to overcome in a scene with few suitable replacements.

Even today, N.F.O.H. remains a powerful symbol of what it was like to make dark music in a country steeped in censorship, inequality, and violence. Between the echoes of British post-punk and the brutal reality of 1980s South Africa, the group left a cult legacy, revered by collectors and rediscovered by sound researchers who delve into the alternative scenes of the Southern Hemisphere.

---

Singles & EPs

• The Present Has Passed (1988)
• Fade Away / The Price You Pay (2018)

---

Compilations

• Fly By Night (1986-1998)
• The Present Has Passed: The Best Of No Friends Of Harry (2003)

 

 

 

 

 

 

Leia Mais

The Mighty Lemon Drops

 

Formada na primavera de 1985 em Wolverhampton, coração industrial do Black Country inglês, a The Mighty Lemon Drops foi uma banda que caminhou entre o pós-punk melódico e a herança psicodélica dos anos 60, com guitarras Rickenbacker reverberando ecos de Byrds e Echo & the Bunnymen.

Antes de assumirem esse nome, o grupo era conhecido como The Sherbet Monsters, formado por Paul Marsh (voz), Dave Newton (guitarra) e Tony Linehan (baixo), todos com passagens anteriores pela obscura banda Active Restraint, ativa no circuito alternativo em 1982. Dave Newton chegou a integrar os primeiros dias da Wild Flowers, outro nome relevante da cena britânica da época. 

A sonoridade dos Drops misturava urgência pós-punk com uma pegada claramente influenciada por guitarras psicodélicas, o que os aproximava de contemporâneos como Echo & the Bunnymen, mas com uma abordagem mais direta e menos densa. Após a saída do baterista original Martin Gilks (que depois se juntaria ao The Wonder Stuff), a formação se consolidou com Keith Rowley na bateria.

O primeiro single, "Like an Angel", saiu em dezembro de 1985 pelo pequeno selo Dreamworld Records, gerenciado por Daniel Treacy do Television Personalities. A faixa rapidamente se tornou um hit do UK Indie Chart, vendendo cerca de 14 mil cópias um número expressivo para os padrões da cena independente. No mesmo período, gravaram uma importante sessão para John Peel, carimbando seu lugar na emergente cena C86, encampada pela revista NME. 

Chamando a atenção de Geoff Travis (Rough Trade), assinaram com o selo Blue Guitar, uma subdivisão da Chrysalis Records, e logo emplacaram um contrato com a Sire Records para distribuição nos EUA e Canadá. Em 1987, Derek Jarman, ícone do cinema experimental britânico, dirigiu o videoclipe do single "Out of Hand", seguido pelo sucesso "Inside Out", em 1988.

Os álbuns Happy Head (1986) e World Without End (1988) chegaram às paradas britânicas (posições #58 e #34, respectivamente), mas foi nos Estados Unidos que a banda conquistou maior êxito. O segundo álbum se tornou um dos mais tocados nas rádios universitárias e alternativas, figurando no topo do Modern Rock/College Chart. A crítica da revista Sounds elegeu Happy Head como um dos 50 melhores álbuns de 1986. 

O som da banda se apoiava fortemente nas guitarras de Newton, que usava uma rara Vox Mark VII "Teardrop" de 12 cordas e uma Micro-Frets Spacetone de 6 cordas,instrumentos que imprimiam uma identidade sonora única ao grupo.

Mesmo com o sucesso alternativo, a banda rompeu com a Chrysalis após três discos, Happy Head, World Without End e Laughter (1989). Este último ainda conseguiu entrar nas paradas da Billboard (posição #195), consolidando o nome da banda nos Estados Unidos. Durante as gravações de Laughter, Tony Linehan deixou o grupo, sendo substituído por Marcus Williams. 

Nos anos seguintes, lançaram ainda os álbuns Sound ... Goodbye to Your Standards (1991) e Ricochet (1992), antes de encerrarem as atividades. Compilações e discos ao vivo como All the Way, Young, Gifted & Black Country e a coletânea Rollercoaster mantiveram o nome da banda em circulação. Em 2000, a banda se reuniu para um show especial em Wolverhampton e, em 2007, surgiram rumores (nunca confirmados) de uma reunião no festival Coachella.

O guitarrista Dave Newton seguiu carreira como produtor e engenheiro de som na Califórnia, trabalhando com bandas como The Little Ones, The Blood Arm, The Soft Pack, entre outros. Em 2006, produziu e tocou na releitura de "Inside Out" para o álbum da banda The Lassie Foundation. Em 2011, produziu o terceiro álbum do The Blood Arm, Turn and Face Me. 

Atualmente, todos os álbuns do Mighty Lemon Drops foram relançados oficialmente pelo selo Wounded Bird Records, com faixas bônus e encartes especiais. Em 2014, a Cherry Red Records resgatou o material primordial da banda com a coletânea Uptight: The Early Recordings 1985–1986 um verdadeiro mergulho nos primeiros passos dessa pérola da cena alternativa britânica.

Discografia Essencial:

Happy Head (1986) – UK #58

World Without End (1988) – UK #34

Laughter (1989) – US #195

Sound ... Goodbye to Your Standards (1991)

Ricochet (1992)

 

The Mighty Lemon Drops

Formed in the spring of 1985 in Wolverhampton, the industrial heart of England's Black Country, The Mighty Lemon Drops was a band that navigated between melodic post-punk and the psychedelic heritage of the 1960s, with Rickenbacker guitars echoing the sounds of The Byrds and Echo & the Bunnymen.

Before adopting this name, the group was known as The Sherbet Monsters, formed by Paul Marsh (vocals), Dave Newton (guitar), and Tony Linehan (bass), all of whom had previously been members of the obscure band Active Restraint, active in the alternative circuit in 1982. Dave Newton even spent some early days with The Wild Flowers, another significant name in the British scene of that time.

The Drops' sound blended post-punk urgency with a clear influence from psychedelic guitars, which brought them closer to contemporaries like Echo & the Bunnymen, but with a more direct and less dense approach. After the departure of original drummer Martin Gilks (who later joined The Wonder Stuff), the lineup solidified with Keith Rowley on drums.

Their first single, "Like an Angel," was released in December 1985 by the small Dreamworld Records label, managed by Daniel Treacy of Television Personalities. The track quickly became a hit on the UK Indie Chart, selling around 14,000 copies—a significant number for the standards of the independent scene. During the same period, they recorded an important session for John Peel, cementing their place in the emerging C86 scene championed by NME magazine.

Attracting the attention of Geoff Travis (Rough Trade), they signed with the Blue Guitar label, a subdivision of Chrysalis Records, and soon secured a contract with Sire Records for distribution in the USA and Canada. In 1987, Derek Jarman, an icon of British experimental cinema, directed the music video for the single "Out of Hand," followed by the success of "Inside Out" in 1988.

The albums Happy Head (1986) and World Without End (1988) reached the British charts (positions #58 and #34, respectively), but it was in the United States that the band achieved greater success. The second album became one of the most played on university and alternative radio stations, topping the Modern Rock/College Chart. Sounds magazine critics voted Happy Head as one of the 50 best albums of 1986.

The band's sound relied heavily on Newton's guitars, who used a rare 12-string Vox Mark VII "Teardrop" and a 6-string Micro-Frets Spacetone, instruments that imprinted a unique sonic identity on the group.

Despite their alternative success, the band broke with Chrysalis after three albums: Happy Head, World Without End, and Laughter (1989). The latter still managed to enter the Billboard charts (position #195), solidifying the band's name in the United States. During the recording of Laughter, Tony Linehan left the group and was replaced by Marcus Williams.

In the following years, they released the albums Sound ... Goodbye to Your Standards (1991) and Ricochet (1992) before disbanding. Compilations and live albums such as All the Way, Young, Gifted & Black Country and the Rollercoaster collection kept the band's name in circulation. In 2000, the band reunited for a special show in Wolverhampton, and in 2007, rumors (never confirmed) of a reunion at the Coachella festival emerged.

Guitarist Dave Newton pursued a career as a producer and sound engineer in California, working with bands such as The Little Ones, The Blood Arm, and The Soft Pack, among others. In 2006, he produced and played on a re-recording of "Inside Out" for The Lassie Foundation's album. In 2011, he produced The Blood Arm's third album, Turn and Face Me.

Currently, all of The Mighty Lemon Drops' albums have been officially re-released by the Wounded Bird Records label, with bonus tracks and special inserts. In 2014, Cherry Red Records rescued the band's primordial material with the compilation Uptight: The Early Recordings 1985–1986, a true dive into the early steps of this gem of the British alternative scene.

Essential Discography: Happy Head (1986) – UK #58 World Without End (1988) – UK #34 Laughter (1989) – US #195 Sound ... Goodbye to Your Standards (1991) Ricochet (1992)

 

Leia Mais

Aroma Di Amore

 

Aroma Di Amore emergiu da cena underground belga nos anos 80. Com uma trajetória que se estende por quatro décadas, o grupo formado pelos membros centrais Elvis Peeters (voz), Fred Angst (guitarra) e Lo Meulen (baixo) construiu uma discografia marcada pela originalidade, pelo confronto e pela reinvenção constante.

O Aroma Di Amore surgiu em 1982, ganhando destaque quase imediatamente após alcançar a final do Humo’s Rock Rally, tradicional concurso belga voltado a revelar novos talentos. Seu primeiro show ocorreu no lendário espaço De Muze, em Antuérpia, local que se tornaria um ponto de referência para a cena alternativa flamenga. 

A sonoridade da banda é comumente rotulada como post-wave  uma fusão entre o pós-punk, a new wave e elementos de rock experimental, temperada com letras em neerlandês de teor poético, sarcástico e por vezes surrealista. O vocalista Elvis Peeters, com sua declamação quase teatral e presença intensa, tornou-se uma figura emblemática do underground belga. Suas letras frequentemente exploram temas como o absurdo da existência, a alienação urbana e a política, em um estilo que remete tanto ao dadaísmo quanto à crítica social.

Ao longo de sua carreira, a banda lançou seis álbuns de estúdio, além de uma série de maxis, EPs, coletâneas e compactos. Mesmo sem alcançar o mainstream, o grupo cultivou uma base sólida de admiradores e permaneceu ativo nos palcos durante décadas, realizando centenas de apresentações pela Bélgica e outros países europeus. Cada retorno  como o que ocorreu nos anos 2000, foi acompanhado por aclamação tanto do público quanto da crítica especializada. 

Em 2018, o legado do grupo foi celebrado na exposição Lang Leve De Muziek (“Vida Longa à Música”), realizada na Abadia de São Pedro (Sint-Pietersabdij), em Gante, que abordava a música flamenga e holandesa em suas múltiplas facetas. Quatro anos depois, em 2022, o grupo encerrou oficialmente sua carreira com um último show na casa AB (Ancienne Belgique), em Bruxelas uma despedida simbólica e comovente que marcou o fim de uma era.

Para coroar essa trajetória, no mesmo ano foi lançado o box Zwarte Doos (“Caixa Preta”), reunindo todos os registros dos anos 80 um verdadeiro documento histórico que reafirma a relevância do Aroma Di Amore na cartografia sonora da Europa pós-industrial.

Se bandas como Front 242 e The Neon Judgement representaram o lado eletrônico do underground belga, o Aroma Di Amore surge como seu contraponto visceral e orgânico, armado de guitarras angulosas, baixo pulsante e uma poética que nunca buscou agradar apenas provocar. 

Discografia

Koude Oorlog   1984

Harde Feiten      1986

KoudvuuR          1987

Ongehoord         2010

Samizdat            2012

Zin                     2016

 

 

 Aroma Di Amore

Aroma Di Amore emerged from the Belgian underground scene in the 1980s. With a trajectory spanning four decades, the group formed by core members Elvis Peeters (vocals), Fred Angst (guitar), and Lo Meulen (bass) built a discography marked by originality, confrontation, and constant reinvention.

Aroma Di Amore arose in 1982, gaining prominence almost immediately after reaching the final of Humo’s Rock Rally, a traditional Belgian competition focused on discovering new talents. Their first show took place at the legendary De Muze venue in Antwerp, a place that would become a reference point for the Flemish alternative scene.

The band's sound is commonly labeled as post-wave – a fusion of post-punk, new wave, and elements of experimental rock, seasoned with Dutch lyrics of a poetic, sarcastic, and sometimes surreal nature. Vocalist Elvis Peeters, with his almost theatrical declamation and intense presence, became an emblematic figure of the Belgian underground. His lyrics often explore themes such as the absurdity of existence, urban alienation, and politics, in a style reminiscent of both Dadaism and social criticism.

Throughout their career, the band released six studio albums, in addition to a series of maxis, EPs, compilations, and singles. Even without reaching the mainstream, the group cultivated a solid base of admirers and remained active on stage for decades, performing hundreds of shows across Belgium and other European countries. Each return – such as the one that occurred in the 2000s – was accompanied by acclaim from both the public and specialized critics.

In 2018, the group's legacy was celebrated in the exhibition Lang Leve De Muziek (“Long Live Music”), held at the Saint Peter's Abbey (Sint-Pietersabdij) in Ghent, which addressed Flemish and Dutch music in its multiple facets. Four years later, in 2022, the group officially ended their career with a final show at the AB (Ancienne Belgique) in Brussels – a symbolic and moving farewell that marked the end of an era.

To crown this trajectory, in the same year, the box set Zwarte Doos (“Black Box”) was released, bringing together all the recordings from the 1980s – a true historical document that reaffirms Aroma Di Amore's relevance in the sonic cartography of post-industrial Europe.

If bands like Front 242 and The Neon Judgement represented the electronic side of the Belgian underground, Aroma Di Amore emerged as their visceral and organic counterpart, armed with angular guitars, a pulsating bass, and a poetics that never sought to please, only to provoke.

Discography

Koude Oorlog 1984 Harde Feiten 1986 KoudvuuR 1987 Ongehoord 2010 Samizdat 2012 Zin 2016

 

 

Leia Mais

The Monochrome Set

Formada em Londres no começo de 1978, a The Monochrome Set é uma daquelas bandas que caminharam na margem do sucesso comercial, mas deixaram marcas profundas no subterrâneo pós-punk britânico, especialmente entre músicos atentos e colecionadores devotos. Misturando charme art pop, senso de humor peculiar e riffs angulosos, a banda foi uma das mais originais e excêntricas do caldeirão criativo do final dos anos 70.

A história da The Monochrome Set começa com os destroços de um grupo universitário chamado The B-Sides, que teve entre seus membros ninguém menos que Stuart Goddard, o futuro Adam Ant. Em 15 de fevereiro de 1978, o quarteto original fez sua primeira apresentação ao vivo no Westfield College. À frente estava Bid (Ganesh Seshadri), vocalista e compositor principal, nascido na Índia. Com ele estavam o guitarrista canadense Lester Square (Thomas W.B. Hardy), o baterista John D. Haney (ex-The Art Attacks) e o baixista Charlie X. 

Após mudanças no baixo Jeremy Harrington e Simon Croft passaram pelo posto, foi Andy Warren, ex-Ants e amigo de infância de Bid, quem se firmou na formação em 1979. É dessa fase inicial que surgem os primeiros singles pela Rough Trade, que abririam caminho para o cultuado Strange Boutique (1980), lançado pelo selo DinDisc, da Virgin Records. Apesar de alcançar apenas a 62ª posição nas paradas britânicas, o disco estabeleceu o som peculiar do grupo: melódico, sarcástico e cheio de melodias grudentas sem jamais soar convencionais.

Ainda em 1980, lançam Love Zombies, e em 1981, com nova troca de baterista, sai Haney, entra Lexington Crane, preparam o terreno para Eligible Bachelors (1982), produzido por Tim Hart e lançado pela Cherry Red, selo que se tornaria essencial no legado da banda. Nesse meio-tempo, Tony Potts, cineasta experimental, começou a colaborar com a banda, criando projeções visuais e iluminação nas performances ao vivo  a ponto de ser considerado o “quinto membro” do grupo. 

Em 1985, lançam The Lost Weekend pela Warner Bros., já com a formação que incluía Bid, Warren, Foster, Booth e Wesolowski. O álbum, embora ambicioso, fracassa comercialmente e marca o encerramento da primeira fase do grupo. Ainda assim, os músicos permanecem ativos e servem como banda de apoio no disco de estreia do projeto Would-Be-Goods em 1988.

Em 1990, Bid, Square e Warren ressuscitam o projeto, agora com o tecladista Orson Presence e o baterista Mike Urban (depois substituído por Trevor Ready). A nova encarnação encontra um público fiel no Japão, e entre 1990 e 1998 lançam cinco álbuns pelo selo Vinyl Japan e pela Cherry Red. 

Após uma nova pausa, Bid se dedica ao projeto Scarlet’s Well, e a música da Monochrome Set volta ao radar graças a uma releitura de “He’s Frank”, regravada por Fatboy Slim (como Brighton Port Authority) com Iggy Pop nos vocais para a série Heroes.

Em outubro de 2008, a banda reaparece num show comemorativo dos 30 anos da Cherry Red  e dos próprios 30 anos da Monochrome Set. A formação reúne Bid, Warren, Lester Square, Jennifer Denitto (bateria) e Sian Chaffer (teclados), ambas do Scarlet’s Well.

A partir de 2010, com a entrada de John Paul Moran (teclado) e após Bid se recuperar de um aneurisma, a banda volta a excursionar com força total passando por Reino Unido, Europa e Japão. O álbum Platinum Coils (2012) marca o retorno oficial aos estúdios após 17 anos. 

Em 2013 lançam Super Plastic City, seguido por Spaces Everywhere (2015), já pelo selo alemão Tapete Records. Lester Square se despede da banda após esse disco. O ex-baterista Mike Urban volta ao grupo, e eles seguem com lançamentos regulares: Cosmonaut (2016), Maisieworld (2018) e o intenso Fabula Mendax (2019), que os leva à primeira turnê na costa oeste dos EUA.

Com a entrada da tecladista Athen Ayren e o baterista Stephen Gilchrist, a banda lança Allhallowtide em março de 2022, celebrando 16 álbuns de estúdio em quase cinco décadas de trajetória. Em 2023, a Tapete resgata parte dessa história com a coletânea Radio Sessions: Marc Riley BBC6 Music, 2011–2022, revelando ao público mais recente que a chama da Monochrome Set continua acesa. 

Discografia

Strange Boutique (1980)
Love Zombies (1980)
Eligible Bachelors (1982)
The Lost Weekend (1985)
Dante's Casino (1990)
Jack (1991)
Charade (1993)
Misère (1994)
Trinity Road (1995)
Platinum Coils (2012)
Super Plastic City (2013)
Spaces Everywhere (2015)
Cosmonaut (2016)
Maisieworld (2018)
Fabula Mendax (2019)
Allhallowtide (2022)

Formed in London in early 1978, The Monochrome Set is one of those bands that walked the margins of commercial success but left deep marks in the British post-punk underground, especially among attentive musicians and devoted collectors. Blending art pop charm, a peculiar sense of humor, and angular riffs, the band was one of the most original and eccentric of the late '70s creative explosion.

The story of The Monochrome Set begins with the remnants of a university group called The B-Sides, which included none other than Stuart Goddard, the future Adam Ant. On February 15, 1978, the original quartet gave their first live performance at Westfield College. Leading the band was Bid (Ganesh Seshadri), the Indian-born vocalist and main songwriter. He was joined by Canadian guitarist Lester Square (Thomas W.B. Hardy), drummer John D. Haney (ex-The Art Attacks), and bassist Charlie X.

After lineup changes on bass — Jeremy Harrington and Simon Croft passed through the role — it was Andy Warren, ex-Ants and childhood friend of Bid, who solidified the lineup in 1979. From this early phase came their first singles on Rough Trade, which paved the way for the cult classic Strange Boutique (1980), released by DinDisc, a Virgin Records label. Despite reaching only 62nd on the UK charts, the album established the group's peculiar sound: melodic, sarcastic, and full of catchy tunes that never sounded conventional.

Still in 1980, they released Love Zombies, and in 1981, with another drummer change — Haney out, Lexington Crane in — they prepared the ground for Eligible Bachelors (1982), produced by Tim Hart and released by Cherry Red, a label that would become essential in the band’s legacy. Around this time, Tony Potts, an experimental filmmaker, began collaborating with the band, creating visuals and lighting for their live performances — to the point of being considered the group’s “fifth member.”

In 1985, they released The Lost Weekend on Warner Bros., with a lineup including Bid, Warren, Foster, Booth, and Wesolowski. The album, although ambitious, was a commercial failure and marked the end of the group’s first phase. Even so, the musicians remained active and served as the backing band for the debut album of the Would-Be-Goods project in 1988.

In 1990, Bid, Square, and Warren revived the project, now joined by keyboardist Orson Presence and drummer Mike Urban (later replaced by Trevor Ready). This new incarnation found a loyal audience in Japan, and between 1990 and 1998 they released five albums on the Vinyl Japan and Cherry Red labels.

After another hiatus, Bid devoted himself to the Scarlet’s Well project, and The Monochrome Set’s music returned to the radar thanks to a cover of “He’s Frank,” re-recorded by Fatboy Slim (as Brighton Port Authority) with Iggy Pop on vocals for the series Heroes.

In October 2008, the band reappeared at a show celebrating both 30 years of Cherry Red and the 30th anniversary of The Monochrome Set. The lineup included Bid, Warren, Lester Square, Jennifer Denitto (drums), and Sian Chaffer (keyboards), both from Scarlet’s Well.

From 2010 onwards, with John Paul Moran (keyboards) joining and after Bid recovered from an aneurysm, the band resumed touring extensively across the UK, Europe, and Japan. The album Platinum Coils (2012) marked their official return to the studio after 17 years.

In 2013 they released Super Plastic City, followed by Spaces Everywhere (2015), now on the German label Tapete Records. Lester Square departed the band after this album. Former drummer Mike Urban rejoined, and they continued with regular releases: Cosmonaut (2016), Maisieworld (2018), and the intense Fabula Mendax (2019), which led to their first tour on the US West Coast.

With the addition of keyboardist Athen Ayren and drummer Stephen Gilchrist, the band released Allhallowtide in March 2022, celebrating 16 studio albums across nearly five decades of activity. In 2023, Tapete honored that history with the compilation Radio Sessions: Marc Riley BBC6 Music, 2011–2022, revealing to a newer audience that The Monochrome Set’s flame still burns bright.

Discography

Strange Boutique (1980)
Love Zombies (1980)
Eligible Bachelors (1982)
The Lost Weekend (1985)
Dante's Casino (1990)
Jack (1991)
Charade (1993)
Misère (1994)
Trinity Road (1995)
Platinum Coils (2012)
Super Plastic City (2013)
Spaces Everywhere (2015)
Cosmonaut (2016)
Maisieworld (2018)
Fabula Mendax (2019)
Allhallowtide (2022)

Leia Mais

Dämmerattacke

 

Dämmerattacke foi um grupo austríaco de post-punk e new wave ativo entre 1979 e 1983, originário de Wiener Neustadt, Áustria. Formada por colegas de escola, a banda combinava elementos de punk rock com influências eletrônicas e atmosferas sombrias, sendo frequentemente comparada a bandas como Joy Division.

Integraram a banda Walter Leinweber ( guitarra, vocais), Michael Andersch  (saxofone), Thomas Guth (baixo), Wolfgang Leinweber (bateria), Erich Allinger (teclados), bem como adentrou em 1981( guitarra, baixo acústico).

A música da Dämmerattacke é caracterizada por uma atmosfera melancólica e introspectiva. O álbum "Tausend Seen" é frequentemente comparado ao "Closer" do Joy Division, devido à sua sonoridade sombria e envolvente. A voz melancólica de Walter Leinweber adiciona um toque "anti-pop" à mistura, resultando em uma peça única na história da música underground austríaca.

Apesar de sua curta existência, a Dämmerattacke deixou uma marca significativa na cena musical underground da Áustria. Seus lançamentos, especialmente o álbum "Tausend Seen", são altamente procurados por colecionadores e entusiastas do gênero. A banda é lembrada por sua contribuição única ao post-punk e new wave austríaco.

Mensch und Maschine (1980)  Demo

Este é o primeiro registro da banda, uma demo caseira que captura a energia bruta e experimental do início da Dämmerattacke. Gravado em uma época em que o punk ainda reverberava fortemente na Europa Central, "Mensch und Maschine" revela uma formação em transição do punk tradicional para um pós-punk mais climático e eletrônico. Apesar de não ter sido lançado oficialmente na época, a demo circulou no circuito alternativo austríaco e ajudou a solidificar a reputação da banda como pioneira na cena local de post-punk. 

Das Märchen EP (1981) 

O primeiro lançamento oficial da banda. "Das Märchen" ("O Conto de Fadas") marca um avanço na produção e uma estética mais refinada. Ainda fortemente ancorado no pós-punk, o EP aponta para uma sensibilidade narrativa e artística mais apurada. A inclusão de elementos de saxofone e arranjos mais sutis mostra uma evolução em relação à crueza da demo.

As faixas giram em torno de temas de alienação, imaginação sombria e crítica social, embaladas por uma sonoridade minimalista. O título do EP ironiza os contos infantis ao contrastar fantasia com dureza da realidade urbana.

Tausend Seen (1982) 

Este é o único álbum completo lançado pela banda e sua obra-prima definitiva. “Tausend Seen” (“Mil Lagos”) marca a culminação do estilo da Dämmerattacke  uma fusão sombria de post-punk e atmosferas oníricas, com uma abordagem mais madura.A produção tem um caráter mais ambiental e melancólico, antecipando sonoridades que viriam a ser exploradas por bandas do darkwave e do gothic rock.

O álbum flui quase como uma narrativa contínua. As composições são mais elaboradas, com camadas de teclado e linhas de baixo densas que criam uma sensação de imersão. Letras Poéticas, abstratas e existencialistas. Tratam de paisagens mentais, isolamento, memória, e um senso quase fílmico de lugar e tempo.

 

Dämmerattacke was an Austrian post-punk and new wave group active between 1979 and 1983, originating from Wiener Neustadt, Austria. Formed by schoolmates, the band combined punk rock elements with electronic influences and dark atmospheres, often drawing comparisons to bands like Joy Division.

The band included Walter Leinweber (guitar, vocals), Michael Andersch (saxophone), Thomas Guth (bass), Wolfgang Leinweber (drums), Erich Allinger (keyboards), and later joined in 1981 (guitar, acoustic bass).

Dämmerattacke’s music is characterized by a melancholic and introspective atmosphere. The album "Tausend Seen" is often compared to Joy Division's "Closer" due to its dark and immersive sound. Walter Leinweber's melancholic voice adds an "anti-pop" touch to the mix, resulting in a unique piece in the history of Austrian underground music.

Despite their short existence, Dämmerattacke left a significant mark on Austria's underground music scene. Their releases, especially the album "Tausend Seen," are highly sought after by collectors and genre enthusiasts. The band is remembered for their unique contribution to Austrian post-punk and new wave.

Mensch und Maschine (1980)  Demo

This is the band's first recording, a homemade demo that captures the raw and experimental energy of Dämmerattacke's early days. Recorded at a time when punk was still strongly resonating in Central Europe, "Mensch und Maschine" reveals a group in transition from traditional punk toward a more atmospheric and electronic post-punk. Although it wasn’t officially released at the time, the demo circulated within Austria's alternative circuit and helped solidify the band’s reputation as pioneers in the local post-punk scene. 

Das Märchen EP (1981) 

The band’s first official release. "Das Märchen" ("The Fairy Tale") marks a leap in production and a more refined aesthetic. Still deeply rooted in post-punk, the EP points to a more developed artistic and narrative sensibility. The inclusion of saxophone elements and more subtle arrangements shows a clear evolution from the rawness of the demo.

The tracks revolve around themes of alienation, dark imagination, and social critique, wrapped in a minimalist sound. The EP’s title ironically contrasts childhood fairy tales with the harshness of urban reality.

Tausend Seen (1982) 

This is the only full-length album released by the band and their definitive masterpiece. “Tausend Seen” (“Thousand Lakes”) marks the culmination of Dämmerattacke's style — a dark fusion of post-punk and dreamlike atmospheres with a more mature approach. The production takes on an ambient and melancholic character, anticipating sounds later explored by darkwave and gothic rock bands.

The album flows almost like a continuous narrative. The compositions are more elaborate, with layered keyboards and dense bass lines that create a sense of immersion. Poetic, abstract, and existentialist lyrics explore mental landscapes, isolation, memory, and a nearly cinematic sense of time and place.

Leia Mais

Fifth Column

 

Formada em Toronto no início dos anos 80, a Fifth Column foi uma banda essencialmente feminina que transitou entre o post-punk, o DIY radical e os primórdios do que viria a ser conhecido como queercore. Ativas entre 1980 e 1995, elas não só desafiavam os moldes sonoros da época como também sacudiam a política de gênero e sexualidade na cena alternativa canadense um terreno ainda bastante conservador, mesmo entre os ditos "desviantes".

O embrião da banda começou sob o nome Second Unit, com GB Jones na bateria, Kathleen Pirrie Adams no baixo e Janet Martin na guitarra. Foi em um desses primeiros shows, ainda em 1980, que Caroline Azar se encantou com o trio e logo se integrou como vocalista, selando a formação inicial da Fifth Column. O nome foi escolhido como referência ao termo militar cunhado durante a Guerra Civil Espanhola “quinta coluna” apontando para sabotadores infiltrados no coração da cidade sitiada. Uma metáfora perfeita para uma banda que se via como uma força de infiltração crítica no meio cultural dominante. 

Logo no início, o grupo mergulhou de cabeça na cultura da fita cassete, participando da coletânea Urban Scorch em 1981, lançada pela Some Product. Jones, Azar e Candy Parker também criaram o zine Hide, uma colagem xerocada de arte e crítica social que teve cinco edições. O zine se desdobrou em compilações em fita com nomes como Anti-Scrunti Faction, Mydolls, Really Red e Michael Phillip Wojewoda, além da própria Fifth Column.

Enfrentando resistência tanto da mídia convencional quanto de segmentos assimilacionistas da cena alternativa, a Fifth Column incomodava por sua estética crua, performances não-convencionais e postura explicitamente feminista. Poucos jornalistas da época as defenderam: nomes como Denise Benson (CKLN), Chris O'Connor (The Eye), John Sakamoto (The Sun) e Liam Lacey (The Globe and Mail) estão entre os poucos aliados. 

A primeira gravação em vinil foi o EP Boy-Girl, lançado em 1983 pelo selo Voicepondence. Mas foi com o LP To Sir With Hate (título que ironiza o filme britânico To Sir With Love) que a Fifth Column encontrou sua voz mais marcante. Produzido por Michael Phillip Wojewoda, o disco se tornou um marco na música underground canadense, sendo indicado diversas vezes na categoria de legado do Polaris Music Prize entre 2016 e 2018.

O destaque vai para a faixa “The Fairview Mall Story”, que denuncia a armadilha policial contra homens gays em Toronto e sua exposição pública pela imprensa um gesto artístico crucial para a formação da futura cena queercore. O videoclipe, dirigido por Steven Rumbelow, é uma colagem ácida de consumismo, repressão e sexualidade encenada. Já o vídeo de "Where Are They Now?", dirigido por Marc de Guerre, também ampliou os limites estéticos do grupo. 

Suas apresentações ao vivo eram performáticas, com projeções de filmes e um “go-go boy” dançando, em uma inversão crítica dos papéis de gênero. Instrumentistas convidados, como saxofonistas e violinistas, completavam o cenário sonoro mutante da banda.

Em 1992, lançaram o provocativo single "All Women Are Bitches" pelo selo K Records  um ataque irônico ao sexismo e às caricaturas sobre feministas. Apesar da rejeição radiofônica, a música foi eleita “Single da Semana” pela Melody Maker no Reino Unido, graças ao crítico Everett True. 

Este single integraria seu terceiro e último álbum, 36C, lançado em 1994. O videoclipe de "Donna", dirigido por Bruce LaBruce, escancarava os temas queer e feministas da banda, com participações de amigas e musas do coletivo, como Jena Von Brucker, Mic Hell, Norma Jean LeFebvre e Ottilie Mason.

A banda se desfez em 1995, após o cancelamento de uma turnê britânica e com GB Jones cada vez mais envolvida com projetos artísticos em Nova York. Seu último registro sonoro apareceu em 2002, na compilação Fields And Streams, da Kill Rock Stars.

Após o fim da banda, as integrantes continuaram ativas nas artes. Caroline Azar envolveu-se com teatro, compôs para peças como The End e criou libretos como MAN-O-REXIC e D.I.N.K. Ela também escreveu e dirigiu a série cômica St. Peon, encenada por Jamillah Ross. Já GB Jones colaborou com projetos experimentais como Mariae Nascenti, Agnoema e fundou o duo Opera Arcana, que lançou trilhas sonoras e se apresentou em eventos multimídia dirigidos por Azar.

Em 2012, o documentário She Said Boom: The Story of Fifth Column, dirigido por Kevin Hegge, celebrou o legado da banda com depoimentos de integrantes e artistas como Bruce LaBruce, Kathleen Hanna e Vaginal Davis. E em 2004, a faixa “All Women Are Bitches” ganhou nova vida ao ser reinterpretada pela banda Lesbians on Ecstasy como “Bitchsy”.

 Discografia

1981 – Urban Scorch - k7

1983 – Boy-Girl EP

1992 – All Women Are Bitches / Donna   

Álbuns de estúdio

1985 – To Sir With Hate  

1990 – All-Time Queen of the World 

1994 – 36C 

2002 – Fields and Streams - Coletânea

 

Formed in Toronto in the early 1980s, Fifth Column was an essentially all-female band that moved between post-punk, radical DIY, and the early roots of what would later become known as queercore. Active from 1980 to 1995, they not only challenged the sonic molds of the time but also shook up gender and sexuality politics in the Canadian alternative scene—a space still very conservative, even among the so-called "deviants."

The band’s embryo began under the name Second Unit, with GB Jones on drums, Kathleen Pirrie Adams on bass, and Janet Martin on guitar. It was at one of these early shows, still in 1980, that Caroline Azar became captivated by the trio and soon joined as vocalist, sealing the original Fifth Column lineup. The name was chosen as a reference to the military term coined during the Spanish Civil War—“fifth column”—referring to infiltrators within a besieged city. A perfect metaphor for a band that saw itself as a force of critical infiltration in mainstream culture. 

Early on, the group fully embraced cassette culture, appearing on the 1981 compilation Urban Scorch released by Some Product. Jones, Azar, and Candy Parker also created the zine Hide, a xeroxed collage of art and social critique that ran for five issues. The zine branched into cassette compilations featuring acts like Anti-Scrunti Faction, Mydolls, Really Red, and Michael Phillip Wojewoda, in addition to Fifth Column themselves.

Facing resistance from both mainstream media and assimilationist segments of the alternative scene, Fifth Column provoked discomfort through their raw aesthetic, unconventional performances, and explicitly feminist stance. Few journalists defended them at the time: names like Denise Benson (CKLN), Chris O'Connor (The Eye), John Sakamoto (The Sun), and Liam Lacey (The Globe and Mail) were among the few allies. 

Their first vinyl release was the EP Boy-Girl, released in 1983 by the Voicepondence label. But it was with the LP To Sir With Hate (a title that mocks the British film To Sir With Love) that Fifth Column found their most defining voice. Produced by Michael Phillip Wojewoda, the album became a landmark in Canadian underground music, receiving multiple nominations in the legacy category of the Polaris Music Prize between 2016 and 2018.

A standout track is “The Fairview Mall Story”, which denounces a police sting against gay men in Toronto and their public shaming by the press—a crucial artistic gesture in the development of the future queercore scene. The music video, directed by Steven Rumbelow, is an acidic collage of consumerism, repression, and staged sexuality. The video for "Where Are They Now?", directed by Marc de Guerre, also expanded the band's aesthetic boundaries. 

Their live performances were theatrical, with film projections and a dancing “go-go boy,” critically inverting gender roles. Guest musicians, such as saxophonists and violinists, completed the band's ever-shifting sonic landscape.

In 1992, they released the provocative single "All Women Are Bitches" on the K Records label—an ironic attack on sexism and caricatures of feminists. Despite radio rejection, the song was named “Single of the Week” by the UK’s Melody Maker, thanks to critic Everett True. 

This single would be included on their third and final album, 36C, released in 1994. The music video for "Donna", directed by Bruce LaBruce, laid bare the band’s queer and feminist themes, featuring friends and muses from their collective, such as Jena Von Brucker, Mic Hell, Norma Jean LeFebvre, and Ottilie Mason.

The band dissolved in 1995 after the cancellation of a UK tour and with GB Jones increasingly focused on artistic projects in New York. Their final recorded appearance came in 2002, on the compilation Fields And Streams by Kill Rock Stars.

After the band’s end, its members remained active in the arts. Caroline Azar became involved in theatre, composing for plays such as The End and creating librettos like MAN-O-REXIC and D.I.N.K. She also wrote and directed the comedy series St. Peon, performed by Jamillah Ross. Meanwhile, GB Jones collaborated with experimental projects like Mariae Nascenti, Agnoema, and founded the duo Opera Arcana, which released soundtracks and performed in multimedia events directed by Azar.

In 2012, the documentary She Said Boom: The Story of Fifth Column, directed by Kevin Hegge, celebrated the band's legacy with testimonials from members and artists like Bruce LaBruce, Kathleen Hanna, and Vaginal Davis. And in 2004, the track “All Women Are Bitches” was reborn through a reinterpretation by the band Lesbians on Ecstasy as “Bitchsy.”

 Discography

1981 – Urban Scorch - k7

1983 – Boy-Girl EP

1992 – All Women Are Bitches / Donna   

Studio albums

1985 – To Sir With Hate  

1990 – All-Time Queen of the World 

1994 – 36C 

2002 – Fields and Streams – Compilation

Leia Mais

Box of Fish

 

Poucas bandas personificaram tão bem o "faça você mesmo" e o nonsense surrealista como o Box of Fish, uma das formações mais excêntricas e obscuras da cena pós-punk/underground australiana do início dos anos 80. Apesar da curta duração, o grupo deixou uma marca peculiar e provocativa.

A gênese do Box of Fish tem contornos quase mitológicos: tudo começou em 1981, em um show do The Birthday Party (de Nick Cave) no lendário Stranded, um clube no centro de Sydney. Em um encontro inusitado no banheiro masculino, Bill foi encontrado segurando o cinto de Nick Cave, decorado com uma caveira e ossos cruzados. O que o acessório fazia lá ninguém sabe, mas foi suficiente para que Andy se aproximasse e sugerisse: "Quer montar uma banda?" A resposta, claro, foi afirmativa. E o resto, como dizem, é história. 

Como muitas bandas do underground pós-punk e experimental do início dos anos 80, o Box of Fish passou por diversas formações ao longo de sua breve, porém intensa trajetória. Cada mudança refletia uma fase sonora distinta da frieza eletrônica do drum machine ao som mais orgânico e caótico das guitarras ao vivo. A seguir, uma linha do tempo essencial das formações que definiram a história do grupo:

A primeira formação contava com Bill Quarry (baixo e vocais), Andrew Johnson  (vocais, guitarra e teclados) e bateria eletrônica. Nesta fase, realizaram 02 shows. 

Na segunda fase, ainda com o drum machine, a banda começa a ganhar corpo e um som mais atmosférico. Carol Anderson entra trazendo novas texturas nas guitarras e teclados. Em algum momento desses seis shows, a banda encurta seu nome para o definitivo Box of Fish: fizeram 06 shows

O nome Box of Fish foi retirado de um episódio da série britânica cômica Ripping Yarns (dos criadores do Monty Python), e chegou a ser estendido para frases cada vez mais absurdas como:
"A Box of Fish with tartar sauce on Sunday afternoon eating down at the jetty" até que decidiram manter apenas o essencial: Box of Fish.

Entre 1981 e 1982, a banda começou a ensaiar e apresentou seu primeiro show no Entertainers Club, em Redfern, ao lado da banda experimental Negative Reaction e outros grupos da cena alternativa. A banda transitava por um som cru e distorcido, com guitarras ruidosas e vocais carregados de ironia e provocação.

A terceira fase é considerada a formação clássica. Com a entrada do baterista Craig Rossi, o grupo abandona a frieza da máquina e mergulha num som mais sujo e visceral  é aqui que o suposto “grunge australiano” começa a se moldar. Foram quase 50 apresentações, consolidando o nome da banda nos palcos alternativos de Sydney.

Na quarta fase, curta, porém marcante, com a inclusão do guitarrista Bill Posters, que trouxe um toque extra de ruído e distorção para o som do grupo, isto por volta de Setembro e de 1983. A quinta fase representa o retorno à formação estável, agora com uma sonoridade madura e marcada pelo entrosamento entre Rossi, Anderson e Quarry. Um trio instrumental sólido sob os vocais estridentes e teclados de Johnson.

Em 1984, a banda apenas ensaiou com Paul Spooner na guitarra (do The Rejects), buscando talvez uma nova direção. Mas não chegaram a se apresentar ao vivo. Entre Julho de 1984 a Setembro de 1985, foi a  última e mais longa formação do Box of Fish, com Chris Royal entrando como segundo guitarrista. A banda agora exalava experiência, peso e certa desilusão, ingredientes perfeitos para os palcos decadentes da cena alternativa. Foi com esse lineup que o grupo encerrou sua jornada.

Cada formação do Box of Fish trazia algo novo, mas todas tinham em comum uma postura experimental, independente e desafiadora dos padrões. Essa cronologia revela mais do que mudanças de integrantes, revela um movimento contínuo em direção ao caos criativo que ajudou a definir a sonoridade crua e irônica que muitos só foram descobrir anos depois, nos becos de Seattle.

Em setembro de 1985, o grupo fez seu último show no Strawberry Hills Hotel, encerrando um ciclo breve, mas repleto de energia e irreverência.Após o fim da banda, os membros se espalharam por diversos projetos marcantes da cena australiana como Toys Went Berserk, King Snake Roost, The Deadly Hume, The Fester Brothers e Siberian All-Stars. nomes que ajudaram a manter acesa a chama do rock alternativo no país durante os anos 80. 

Discografia

Erosion - Single (1983)
Slap Em Round The Gills (1985)
Invented Grunge 1984 - Compilation (2008)

 

Few bands embodied the "do-it-yourself" spirit and surrealist nonsense quite like Box of Fish, one of the most eccentric and obscure acts from the early 80s Australian post-punk/underground scene. Despite its short lifespan, the group left a peculiar and provocative mark.

The genesis of Box of Fish borders on mythology: it all began in 1981 at a The Birthday Party (Nick Cave's band) concert at the legendary Stranded club in downtown Sydney. In a bizarre encounter in the men's restroom, Bill was found holding Nick Cave’s belt, decorated with a skull and crossbones. Why the belt was there, no one knows, but it was enough for Andy to approach and suggest: “Want to start a band?” The answer, of course, was yes. And the rest, as they say, is history. 

Like many bands from the early 80s post-punk and experimental underground, Box of Fish went through several line-ups during their brief but intense trajectory. Each change reflected a distinct sonic phase, from the electronic coldness of drum machines to the more organic and chaotic energy of live guitars. Below is a timeline of key lineups that defined the band's history:

The first lineup featured Bill Quarry (bass and vocals), Andrew Johnson (vocals, guitar, and keyboards), and a drum machine. During this phase, they performed 2 shows. 

In the second phase, still using a drum machine, the band began to gain shape and a more atmospheric sound. Carol Anderson joined, bringing new textures on guitar and keyboards. Sometime during these six shows, the band shortened its name to the definitive Box of Fish: they played 6 shows.

The name Box of Fish was taken from an episode of the British comedy series Ripping Yarns (by the creators of Monty Python) and was at one point extended into increasingly absurd phrases like:
"A Box of Fish with tartar sauce on Sunday afternoon eating down at the jetty" until they decided to keep only the essential: Box of Fish.

Between 1981 and 1982, the band began rehearsing and played their first show at the Entertainers Club in Redfern, alongside the experimental band Negative Reaction and other alternative acts. The band explored a raw and distorted sound, with noisy guitars and vocals full of irony and provocation.

The third phase is considered the classic lineup. With the arrival of drummer Craig Rossi, the group abandoned the coldness of the drum machine and dove into a dirtier, more visceral sound — this is where the supposed "Australian grunge" began to take shape. They played nearly 50 shows, solidifying their name on Sydney’s alternative stages.

In the fourth phase — short but significant — guitarist Bill Posters joined, adding an extra layer of noise and distortion to the band’s sound. This was around September 1983. The fifth phase marked a return to a stable lineup, now with a more mature sound shaped by the synergy between Rossi, Anderson, and Quarry — a solid instrumental trio under Johnson’s shrill vocals and keyboards.

In 1984, the band only rehearsed with Paul Spooner on guitar (from The Rejects), possibly seeking a new direction, but they never performed live. From July 1984 to September 1985 was the final and longest-lasting formation of Box of Fish, with Chris Royal joining as second guitarist. The band now exuded experience, weight, and a touch of disillusionment — perfect ingredients for the decaying stages of the alternative scene. It was with this lineup that the group ended its journey.

Each formation of Box of Fish brought something new, but all shared an experimental, independent stance that challenged conventions. This chronology reveals more than just member changes — it reveals a continuous movement toward creative chaos that helped define the raw and ironic sound many would only discover years later in Seattle’s alleys.

In September 1985, the band played their final show at the Strawberry Hills Hotel, closing a brief but energetic and irreverent chapter. After the band ended, members spread into several iconic Australian scene projects such as Toys Went Berserk, King Snake Roost, The Deadly Hume, The Fester Brothers, and Siberian All-Stars — names that helped keep the alternative rock flame alive in the country throughout the 80s. 

Discography

Erosion – Single (1983)
Slap Em Round The Gills (1985)
Invented Grunge 1984 – Compilation (2008)

Leia Mais