sexta-feira, 18 de julho de 2025

The Teardrop Explodes

 Surgida da fervilhante Liverpool pós-punk do final dos anos 70, The Teardrop Explodes nasceu oficialmente em 1978, mas sua gênese remonta aos primórdios da cena local, com Julian Cope (baixista), vocalista e eventual figura central do grupo, tendo integrado a fugaz (mas mitológica) The Crucial Three, ao lado de Pete Wylie (Wah!) e Ian McCulloch (Echo & the Bunnymen). Três egos inflamáveis que mal duraram juntos, mas deixaram sementes em algumas das bandas mais emblemáticas da nova psicodelia britânica.

Entre o art rock, o pós-punk e uma psicodelia relida à luz do final dos anos 70, os Teardrop Explodes rapidamente chamaram atenção com seu primeiro single, “Sleeping Gas” (1979), lançado pela Zoo Records, selo fundado por Bill Drummond, que também gerenciava a banda. Antes disso, uma encarnação inicial do grupo, chamada A Shallow Madness, chegou a contar com McCulloch nos vocais, numa colaboração instável que prenunciava as futuras rusgas entre ele e Cope. 

A formação que gravaria o debut Kilimanjaro (1980) incluía Gary Dwyer na bateria, Mick Finkler na guitarra e Paul Simpson (do futuro Wild Swans) nos teclados, depois substituído por David Balfe, cofundador da Zoo. Com um som que evocava tanto os riffs ácidos do final dos 60 quanto os ritmos enérgicos do pós-punk, o álbum chegou à 24ª posição nas paradas britânicas e ganharia edições futuras incluindo o hit “Reward”, que alçou a banda ao Top 10 e os levou ao Top of the Pops. Nesta apresentação, Cope apareceu usando uma fronha de travesseiro como camiseta, declarando posteriormente estar sob efeito de LSD. 

A instabilidade interna, porém, já fazia parte da equação. Finkler saiu durante as gravações de Kilimanjaro, sendo substituído por Alan Gill (ex-Dalek I Love You), que por sua vez deu lugar a Troy Tate. Enquanto isso, singles como “Treason”, “When I Dream” e “Passionate Friend” (supostamente escrita sobre um affair de Cope com a irmã de McCulloch) mantinham o grupo em destaque musical e tablóide. 

Em 1981, lançam o segundo álbum, Wilder, que apesar de conter momentos inventivos e letras carregadas de lirismo e alienação pop, não repetiu o sucesso do disco anterior. As tensões entre os membros se acirraram, especialmente entre Cope e Balfe, e o clima nas gravações do terceiro disco tornou-se insustentável. Cope chegou a abandonar o estúdio antes do álbum ser concluído, e a turnê subsequente foi, segundo ele próprio, um “desastre em câmera lenta”. 

A banda implodiu em 1982, e Cope iniciou sua longa e imprevisível carreira solo. As gravações inacabadas foram deixadas de lado até 1990, quando finalmente vieram à tona sob o título irônico Everybody Wants to Shag... The Teardrop Explodes, um registro cru, esparso e psicodélico, que mais parece um eco distorcido de um sonho abandonado. 

The Teardrop Explodes foi uma faísca breve, mas intensa um experimento explosivo entre o pop ácido e o art punk, que ainda hoje soa como uma cápsula efervescente do que a psicodelia dos anos 80 poderia ter sido. 

Kilimanjaro, Primary, 1 of 6 

domingo, 6 de julho de 2025

The Particles

A história do The Particles começa na segunda metade dos anos 1970, no exato momento em que o punk sacudia o Reino Unido e a costa leste dos Estados Unidos. A novidade cruzou oceanos rapidamente e chegou à Austrália, fomentando o surgimento de uma cena embrionária em cidades como Sydney, Melbourne e Brisbane.

Em Sydney, um edifício decadente na Berry Street, em North Sydney, tornou-se um centro gravitacional do punk local. Era um bloco de apartamentos em ruínas, que servia como ponto de ensaio e convívio para diversas bandas. Ali, passaram nomes como The Cleaners, The Last Words, e até mesmo os lendários The Saints, que vinham de Brisbane. Foi nesse cenário que nasceu o The Particles, com Peter Williams e Mick Smith à frente da formação original. 

Com a demolição inevitável do prédio, Peter e Mick se mudaram para Darlinghurst, bairro mais próximo dos poucos palcos dispostos a receber bandas do circuito punk alternativo. Na nova fase, juntaram-se a eles Michael Wood e Steven Williams, passando a se apresentar em espaços como Frenches (Darlinghurst), Blondies (Bondi Junction), The Fun House (Taylor Square), Rags (ex-Chequers), Civic Hotel e The Grand Hotel (Railway Square), frequentemente dividindo o palco com bandas como Kaos, Rejex e The Thought Criminals

A formação sofreu sua primeira baixa ainda em 1977 com a saída de Michael Wood. O espaço deixado foi preenchido rapidamente por Astrid Spielman, que assumiu os vocais e se tornaria uma das figuras centrais da trajetória da banda. Ao longo dos sete ou oito anos de existência, o The Particles viu mais de 20 músicos passarem por suas fileiras, transformando a banda em uma verdadeira colagem sonora e humana do underground australiano. 

Em 1979, lançaram de forma independente o compacto "Colour-In", um 7 polegadas gravado com orçamento apertado, mas que conquistou rapidamente as rádios independentes – em especial a 3RRR-FM de Melbourne, onde a faixa virou cult instantâneo. Curiosamente, foi em Melbourne onde a banda ganhou um público mais fiel no início. Em Sydney, o reconhecimento veio de forma mais lenta, mas consistente, com destaque para a residência semanal no Sussex Hotel, onde se apresentavam todas as quartas-feiras com três sets por noite. 

Em 1980, houve nova reformulação: Mick Smith deixou a banda definitivamente, e Steven Williams trocou as baquetas pela função de manager. Mesmo com essas mudanças, o grupo seguiu produtivo e lançou mais dois EPs: "Advanced Colouring" (1981) e "I Luv Trumpet" (1982).  

Esta fase marca uma transição significativa no som do Particles, com a dupla Peter e Astrid mergulhando em experimentações com drum machines, fitas magnéticas, instrumentos de sopro e sintetizadores, tudo isso sem jamais perder o espírito lúdico e pop que a banda cultivava – algo que eles mesmos chamavam de "bubblegum dos anos 80"

A carreira da banda se estendeu até 1985, com turnês intensas por várias regiões da Austrália: Sydney, Melbourne, Brisbane, Adelaide, Perth, Canberra e diversos centros regionais. Ao encerrar as atividades, o The Particles deixava para trás uma discografia breve, mas marcante, e um legado cult de uma era em que o punk australiano ainda era subterrâneo, mutante e surpreendentemente doce.

Singles & EPs

Colour In      1980

Advanced Colouring  1981

I Luv Trumpet             1984

1980s Bubblegum        2023 coletânea

1980s Bubblegum, Primary, 1 of 8 

 

 

 

 

 

quarta-feira, 2 de julho de 2025

Trop Tard

Poucas bandas sintetizam com tanta precisão o espírito soturno e romântico da cold wave francesa quanto o enigmático trio Trop Tard. Formado na região de Poitiers, no interior da França, o grupo surgiu como um grito abafado nos anos finais da década de 1980, um tempo em que o pós-punk já se fragmentava em múltiplas direções e onde as pequenas cenas provincianas francesas se tornavam laboratórios obscuros de experimentação sonora.

Lançando suas obras de forma totalmente independente e em quantidades ínfimas, Trop Tard deixou um rastro quase fantasmagórico no subsolo musical europeu. Em 1987, o grupo lançou a fita cassete Photodrame, uma colagem melancólica e lo-fi de sintetizadores gelados, guitarras opacas e vozes sussurradas. No ano seguinte, veio o álbum Ils Étaient 9 Dans L’Obscurité (1988), editado em vinil também de forma artesanal, praticamente sem qualquer distribuição fora do território francês. 

Ambos os lançamentos se tornaram itens de culto entre colecionadores de vague froide,o termo local para a cold wave, diretamente influenciada pelo pós-punk britânico e pelo som atmosférico da Factory Records, de Martin Hannett

O som do Trop Tard carrega marcas profundas dessa herança: batidas secas e reverberantes, linhas de baixo minimalistas e repetitivas, camadas de sintetizadores nebulosos e um vocal quase declamado, ecoando sentimentos de isolamento, decadência e uma beleza trágica,elementos centrais do romantismo sombrio que guiava bandas como Joy Division, Trisomie 21 e Clair Obscur. 

Durante décadas, o som do Trop Tard esteve praticamente perdido, aprisionado no limbo de fitas caseiras e prensagens mínimas. Foi somente com o advento da internet e dos blogs de música obscura no início dos anos 2000 que o nome da banda começou a reaparecer entre os apaixonados pelo gênero. Em anos mais recentes, algumas faixas ressurgiram em compilações e reedições não-oficiais, reintroduzindo o grupo a uma nova geração de ouvintes fascinados por seus sons.

A redescoberta do Trop Tard é mais do que o resgate de uma relíquia sonora: é a prova de que os cantos esquecidos da história ainda vibram com intensidade, aguardando apenas ouvidos dispostos a escutar no tempo certo, mesmo que, ironicamente, esse tempo seja trop tard

Discografia

Fuite Mentale  K7 (cassete) – 1986

Photodrame  K7 (cassete) – 1987

Ils Étaient 9 Dans L’Obscurité  LP – 1988  

Suite & Fin   2024

Ils Etaient 9 Dans L'Obscurité, Primary, 1 of 6